Lançado às vésperas do caos pandêmico de 2020, The Way Back é mais do que um filme esportivo: é um retrato dolorosamente íntimo sobre recaídas, culpa e a lenta reconstrução de si mesmo. Na pele de Jack Cunningham, Ben Affleck encontra sua atuação mais vulnerável, refletindo não apenas uma trajetória ficcional, mas ecos da própria luta pessoal contra o alcoolismo.
Entre derrotas invisíveis e pequenas vitórias
Jack é um homem quebrado — e o filme não mascara isso. Seu cotidiano é pontuado por latas de cerveja, silêncios arrastados e uma desconexão crescente com o mundo ao redor. Quando recebe um convite inesperado para treinar o time de basquete da escola onde um dia brilhou, Jack aceita com relutância, sem saber que, ali, poderá reencontrar um senso de direção perdido.
Aos poucos, o esporte passa de desculpa para ocupação a catalisador de mudanças internas. A transformação da equipe, embora secundária na estrutura narrativa, reflete uma mudança mais profunda: a de um homem aprendendo a escutar, errar e tentar novamente — mesmo sabendo que o caminho da recuperação nunca é linear.
O esporte como ponte, não como redenção
Ao contrário de muitos filmes do gênero, The Way Back não romantiza o esporte como solução mágica. A trajetória de Jack é marcada por recaídas e confrontos com um luto não resolvido, que o empurra de volta ao vício mesmo no auge de uma possível vitória. O jogo-chave, mais do que um clímax esportivo, é o ponto de ruptura emocional.
A câmera na mão e a direção de Gavin O’Connor favorecem uma linguagem crua e imersiva, priorizando o rosto de Affleck nos momentos de maior tensão emocional. A atuação, intensa sem ser exagerada, sustenta um roteiro que evita maniqueísmos. Não há heróis ou vilões — apenas pessoas tentando seguir em frente com as cicatrizes que carregam.
Da dor pessoal à representação coletiva
Embora centrado em uma jornada íntima, The Way Back também funciona como comentário sobre saúde mental, masculinidade e o peso das expectativas. A escola onde Jack retorna já não é a mesma, e os jovens que encontra refletem um novo tempo, mais aberto à vulnerabilidade, mas ainda marcado por carências estruturais.
A figura do técnico, então, deixa de ser apenas um líder tático para tornar-se alguém disposto a falhar junto. Ao longo da trama, a linha entre treinador e paciente se embaralha, e o que emerge é uma narrativa de interdependência — onde todos têm algo a ensinar e a aprender, especialmente quando os modelos tradicionais de força já não bastam.
Um recomeço fora do placar
Mesmo com bilheteria abaixo do esperado — afetada pela pandemia — o filme conquistou a crítica pela autenticidade. O consenso nas plataformas especializadas destaca a performance de Affleck como o grande trunfo da obra. Mas o mérito vai além: há honestidade na forma como o roteiro lida com recaídas, mostrando que o recomeço não é um evento, mas um processo contínuo e, por vezes, solitário.
O final, longe de ser triunfalista, opta pela contenção. Jack não volta ao time. Mas volta à terapia. Reaproxima-se da família. E reencontra a si mesmo, não como herói redimido, mas como alguém disposto a caminhar, um passo por vez.
