Com estreia aguardada para 2025 no Brasil, o drama épico de Brady Corbet, O Brutalista (The Brutalist), mergulha na complexa jornada de László Tóth, um arquiteto húngaro que, ao lado de sua esposa Erzsébet, tenta reconstruir sua vida após o trauma do Holocausto. Ambientada nos Estados Unidos de 1947, a narrativa não é apenas a saga de um imigrante em busca de uma nova casa e identidade; é um estudo intenso sobre até que ponto a busca por um legado duradouro pode moldar — e talvez corromper — a alma de um artista. A promessa é de uma obra que questiona o preço da fama e o peso das lembranças, tudo isso emoldurado pela estética imponente e intransigente do brutalismo.
O Refúgio e a Reconstrução
A migração de Tóth e Erzsébet para a América não é apenas uma mudança geográfica, mas um doloroso recomeço. Tendo sobrevivido à devastação da Europa pós-guerra, o casal carrega o fardo da memória e a urgência de estabelecer raízes em um novo solo. O filme retrata de maneira íntima o esforço de reerguer a dignidade humana após um período de profunda escuridão, destacando a importância da paz e da justiça como pilares para a reconstrução individual.
A busca de Tóth por um espaço para sua arte é, na verdade, uma busca por um lugar no mundo. O drama explora como a paixão criativa pode se tornar um motor de inovação e infraestrutura, mas também um campo de batalha ético quando confrontado com as realidades financeiras e o poder de grandes clientes. A promessa de erguer monumentos é, para o protagonista, a chance de provar que a vida e a criação podem, de fato, sobreviver ao tempo e ao horror.
O Poder e o Concreto: O Dilema Criativo
A trajetória do arquiteto ganha uma virada dramática quando ele atrai a atenção de Harrison Lee Van Buren Sr., interpretado por Guy Pearce, um cliente enigmático e influente. Este relacionamento se torna o epicentro dos dilemas do filme, expondo a tensão entre a integridade artística e a necessidade de financiamento e reconhecimento. A narrativa propõe uma reflexão sobre a arquitetura como elemento formador do ambiente urbano, questionando quem realmente tem o poder de moldar o futuro das cidades.
O uso estético do brutalismo, com suas linhas fortes e seu “concreto cru”, serve como uma metáfora visual para a dureza da jornada de Tóth. A intransigência do estilo espelha a ambição do artista e, ao mesmo tempo, a rigidez moral que ele tenta manter. A obra sugere que, assim como o cimento, o caráter do protagonista é testado e moldado pela pressão de um mercado exigente, levantando a questão: a que custo se deve ceder para deixar uma marca indelével na paisagem e na cultura?
Legado, Tempo e a Duração Épica
Com aproximadamente 3 horas e 34 minutos de duração (incluindo um intervalo de 15 minutos nas sessões brasileiras, reflexo de sua ambição narrativa), O Brutalista se impõe como uma obra épica que exige paciência, mas promete profundidade. O diretor Brady Corbet, premiado com o Leão de Prata no Festival de Veneza, utiliza um ritmo cadenciado para tecer cenas íntimas de relacionamento e memória com a escala monumental das criações arquitetônicas.
Este foco na memória cultural e no valor patrimonial das obras de Tóth transforma o filme em algo mais do que uma biografia ficcional. É um mergulho na história da arte, da migração e da perseverança humana. Ao expor a luta do protagonista para que suas obras sobrevivam ao tempo, o filme convida o espectador a refletir sobre o verdadeiro significado de um legado e sobre como as grandes construções — sejam elas de concreto ou de caráter — são erguidas a partir dos escombros do passado.
