Luke acredita que os fantasmas de sua infância estão sob controle — até que Daniel, seu amigo imaginário, reaparece com uma presença mais intensa e perigosa do que nunca. Visões (2019), de Adam Egypt Mortimer, é um mergulho no terror psicológico e na ficção fantástica, explorando como traumas reprimidos moldam a percepção de si mesmo e do mundo ao redor. O filme questiona onde termina a imaginação e começa a realidade.
A batalha interna entre razão e impulso
Após um trauma na infância, Luke (Miles Robbins) tenta viver uma vida equilibrada, mas a reaparição de Daniel representa o conflito interno entre autocontrole e impulsos destrutivos. A presença do amigo imaginário deixa claro que nem toda voz dentro de nós quer nosso bem — e que enfrentar esses fragmentos é inevitável para reconstruir a própria identidade.
O roteiro sugere que lidar com a mente é também aprender a reconhecer suas sombras. Daniel funciona como uma metáfora do inconsciente reprimido, e a luta de Luke revela a complexidade de aceitar traumas passados e medos internos sem se perder neles.
Imaginação e realidade: a linha tênue
A narrativa mistura momentos de fantasia, pesadelo e alucinação, tornando difícil distinguir entre o que é real e o que é criação da mente de Luke. O filme usa cores neon, espelhos e distorções visuais para ilustrar a fragmentação da consciência, convidando o espectador a sentir o mesmo descontrole que assola o protagonista.
Essa estética psicodélica não é apenas estilo: é instrumento para refletir sobre a experiência humana de lidar com memórias e emoções que desafiam a razão. É um lembrete de que a percepção da realidade é muitas vezes subjetiva e profundamente influenciada pelo nosso mundo interior.
Trauma, autoconsciência e crescimento
Cassie (Sasha Lane) e Sophie (Hannah Marks) simbolizam a criatividade e a racionalidade que ajudam Luke a se reconectar com sua essência. Por meio delas, o filme mostra que apoio, empatia e consciência emocional são essenciais para navegar pelos labirintos da mente. Cada interação reforça a importância de reconhecer emoções sem se submeter totalmente ao caos interno.
Visões sugere que enfrentar traumas é um processo contínuo de autodescoberta. O jovem precisa equilibrar medo e coragem, sombras e luz, para preservar sua identidade e recuperar o controle sobre sua própria narrativa.
Estética e narrativa como reflexão psicológica
Mortimer utiliza uma edição frenética e cores vibrantes para construir uma experiência imersiva, quase sensorial, do ponto de vista de Luke. A trilha sonora eletrônica reforça o clima onírico e caótico, enquanto os efeitos visuais e reflexos de espelhos destacam a dualidade da psique.
O filme provoca questionamentos sobre liberdade, existência e a responsabilidade de lidar com forças internas — lembrando que o autoconhecimento é um processo complexo, muitas vezes desconfortável, mas necessário para o crescimento pessoal.
Entre medo, trauma e esperança
Visões é um estudo profundo sobre saúde mental, memória e identidade. Mais do que assustar, provoca empatia, reflexão e consciência sobre a fragilidade humana diante do trauma. A história mostra que o inimigo nem sempre está fora de nós: às vezes, ele habita nossos próprios pensamentos.
Ao final, o filme deixa uma mensagem sutil: enfrentar os medos internos, reconhecer os fragmentos da própria mente e buscar apoio emocional são passos essenciais para a liberdade pessoal. Um terror psicológico que, sob a superfície de horror e caos, nos lembra da importância de cuidar da mente.
