No coração de Londres, em meio aos bombardeios da Blitz, uma jovem roteirista descobre que sua maior arma não é feita de pólvora, mas de palavras. Their Finest (2016/2017), dirigido por Lone Scherfig, é uma celebração da arte de contar histórias em tempos de crise, unindo romance, humor e crítica à propaganda de guerra.
O cinema como ferramenta de resistência
A trama acompanha Catrin Cole (Gemma Arterton), contratada para escrever diálogos “femininos” em produções encomendadas pelo governo britânico. Seu trabalho ganha força quando, ao lado do roteirista Tom Buckley (Sam Claflin), ela participa da criação de um filme inspirador sobre a evacuação de Dunquerque. O longa dentro do longa funciona como um espelho da própria época: a ficção surge para dar coragem e alimentar a esperança de uma nação ferida.
Mais do que propaganda, a narrativa mostra como o cinema pode ser espaço de mobilização social e também de reflexão crítica. Em tempos em que a verdade é disputada, criar histórias se torna um gesto político, capaz de unir, consolar e até manipular.
O protagonismo feminino atrás das câmeras
Catrin representa o avanço das mulheres em uma indústria marcada pela predominância masculina. Sua voz, inicialmente contratada apenas para preencher lacunas, logo se torna essencial para a criação de uma história que dialoga com o público e emociona. Ao conquistar respeito no ambiente de trabalho, ela desafia padrões e reivindica um espaço que não lhe seria dado facilmente.
A jornada de Catrin reflete um movimento maior: mulheres assumindo papéis centrais não só na vida cotidiana durante a guerra, mas também na arte e na cultura. O filme evidencia como talento e sensibilidade feminina foram cruciais para construir narrativas que impactaram toda uma geração.
Entre ficção e realidade
Ao abordar o processo de criação de um filme dentro de outro, Their Finest se torna metalinguístico. A fronteira entre realidade e ficção se dissolve, e o espectador percebe que, muitas vezes, é a ficção que dá sentido à realidade. As histórias não apenas retratam os acontecimentos, mas também os moldam, criando versões que alimentam a memória coletiva.
O contraste entre o caos da guerra e o humor leve dos roteiros traz uma mensagem poderosa: rir, sonhar e se emocionar são formas de sobrevivência. A arte, nesse contexto, não é fuga, mas enfrentamento — uma maneira de suportar perdas e reafirmar a humanidade.
Amor em meio às ruínas
No contato com Tom Buckley, Catrin vive uma relação que nasce entre palavras, olhares e cumplicidade criativa. O romance não é apenas um alívio narrativo, mas um reflexo da força dos laços humanos diante da destruição. O amor, assim como a arte, funciona como combustível para resistir e imaginar futuros possíveis.
Ao mesmo tempo, o filme não romantiza a guerra. Ele lembra que perdas são inevitáveis e que o preço do conflito é alto demais. Ainda assim, mostra que mesmo em meio às ruínas, a vida encontra formas de florescer.
A força das histórias
Com estética clássica e atuações marcantes, Their Finest é uma homenagem à arte de narrar. O filme lembra que cada história contada pode ser farol em tempos de escuridão. Mais do que propaganda, mais do que romance, a obra celebra a imaginação como forma de resistência.
No fim, o longa de Lone Scherfig reafirma que contar histórias é, em si, um ato de coragem. Elas não apenas refletem o mundo, mas o transformam. E em tempos de guerra — ou em qualquer crise — é a voz dos narradores que pode manter viva a chama da esperança.
