Somos Tão Jovens (2013) narra o início da trajetória de Renato Russo, um jovem marcado pela fragilidade física e pela inquietação artística. O longa acompanha sua formação musical e pessoal em Brasília, mostrando como a dor se transformou em arte e como o punk foi a porta de entrada para um legado que ultrapassou gerações.
A Dor Como Gatilho Criativo
A adolescência de Renato Russo foi atravessada por um diagnóstico severo: epifisiólise femoral, que o afastou das atividades físicas e o confinou durante meses. Essa dor física, porém, o conduziu a um mergulho interior e o aproximou da música, que se tornaria seu canal mais potente de expressão.
O filme explora com sensibilidade esse processo: o adolescente que, entre o isolamento e a frustração, encontra no violão e nas palavras a força para se reinventar. A dor, nesse contexto, não é um fardo definitivo, mas o ponto de partida de uma jornada que mudaria a história do rock nacional.
A Cena Punk de Brasília e o Aborto Elétrico
A efervescência cultural da Brasília dos anos 70 se apresenta como pano de fundo essencial. Renato, imerso no tédio da capital, encontra na cena punk uma via de resistência. O filme retrata essa atmosfera de forma energética, mostrando a fundação do Aborto Elétrico e a inquietação juvenil que movia a geração.
A transição entre bandas e a criação da Legião Urbana marcam o nascimento de um projeto musical que traduzia angústias coletivas. O rock de Renato Russo se torna, então, o grito de uma juventude sufocada, e Somos Tão Jovens registra esse momento como um divisor de águas para a música brasileira.
Amizades, Amores e a Formação da Identidade
Além da trajetória musical, o filme dedica atenção às relações pessoais que ajudaram a moldar o artista. Amizades importantes, como a de Ana Cláudia, e amores platônicos atravessam o roteiro, revelando um Renato Russo sensível, complexo e em construção.
Esses laços são essenciais para entender o ser humano por trás do mito. São nos gestos cotidianos, nos palcos improvisados e nas conversas de esquina que o personagem encontra suas primeiras verdades e seus primeiros abismos — um caminho que ecoaria nas letras que viriam.
A Performance Viva e a Força da Música
Um dos pontos altos do filme é a opção por Thiago Mendonça cantar ao vivo, aproximando ainda mais o público da emoção crua que Renato Russo transmitia. A entrega vocal e a presença de palco do ator criam um elo sincero entre biografia e performance.
A trilha sonora, recheada de composições que marcaram época, guia o espectador por um passeio nostálgico, mas também potente. A música é tratada como fio condutor da narrativa, mas também como território de educação emocional e social — uma trilha que inspira, ainda hoje, jovens artistas e ouvintes.
Juventude em Foco: Um Retrato que Celebra e Questiona
Somos Tão Jovens evita transformar Renato Russo em um personagem inalcançável. Ao contrário: a narrativa aposta em mostrar suas fraquezas, seus rompantes e suas dúvidas. Essa escolha aproxima o público e cria identificação, especialmente com quem atravessa as dores e descobertas da juventude.
Mesmo com um roteiro que por vezes flerta com o didatismo, o longa se destaca ao humanizar o ícone. A jornada de Renato Russo apresentada aqui é menos sobre o herói e mais sobre o jovem que ousou transformar a própria dor em arte coletiva — e, com isso, tornou-se eterno.
