Em Sete Minutos Depois da Meia-Noite (2016), dirigido por J.A. Bayona, realidade e imaginação se misturam para narrar uma história sobre luto e coragem. O filme acompanha Conor O’Malley, um garoto de 12 anos que vive a iminente perda da mãe, gravemente doente. Todas as noites, à meia-noite e sete, um monstro em forma de árvore ganha vida para contar histórias. Essas narrativas simbólicas ajudam Conor a processar sentimentos difíceis de lidar: raiva, medo, solidão e culpa.
A fantasia, aqui, não surge como fuga, mas como caminho de enfrentamento. As histórias contadas pelo monstro funcionam como parábolas, oferecendo lições sobre justiça, ambiguidade moral e aceitação da verdade. O imaginário se torna, então, uma ferramenta pedagógica e emocional, revelando que a imaginação pode ser tão real quanto o sofrimento — e tão necessária quanto a cura que nunca chega.
O peso da verdade e a coragem emocional
O ponto central da trama é o confronto com a verdade inevitável: a morte da mãe. Conor, apesar de sua pouca idade, aprende que a coragem não está em negar a dor, mas em enfrentá-la. A figura do monstro, interpretada com imponência pela voz de Liam Neeson, não poupa o garoto da realidade, mas o prepara para aceitá-la sem perder sua humanidade.
Essa dimensão emocional ressoa de forma universal. Em um mundo onde a fragilidade da vida é constantemente mascarada por discursos de força e produtividade, A Monster Calls se destaca por valorizar a vulnerabilidade como expressão legítima de coragem. É na lágrima e no reconhecimento da perda que o menino encontra a força necessária para seguir adiante.
Relações familiares e vínculos que sustentam
O filme também se detém nas relações entre gerações. A avó, vivida por Sigourney Weaver, representa a dureza de quem carrega a responsabilidade de cuidar diante da ausência iminente da filha. O pai, distante, encarna a dificuldade de conciliar afetos e obrigações. E Conor, preso entre esses mundos, precisa amadurecer mais rápido do que deveria.
Essa dinâmica familiar, marcada por conflitos e afetos contidos, reforça a mensagem de que o luto não é apenas individual, mas coletivo. Cada personagem lida à sua maneira com a doença e a perda, revelando diferentes formas de expressar amor e de sobreviver à dor. No centro dessa teia, está a criança que aprende, cedo demais, a carregar a verdade como parte de si.
Cinema como recurso educativo e humano
Mais do que uma obra de fantasia sombria, A Monster Calls se consolidou como referência no tratamento do luto no cinema voltado para jovens. Seu impacto não está apenas na estética — marcada por animações em aquarela e fotografia atmosférica —, mas na delicadeza de transformar um tema doloroso em experiência sensível, acessível e poética.
Em escolas, debates familiares ou espaços comunitários, o filme pode ser usado como ferramenta de reflexão. Ele ensina que falar sobre a morte não é tabu, mas necessidade. Reconhecer a finitude da vida é também reconhecer o valor dos vínculos e a importância de cultivar empatia, solidariedade e resiliência.
A poesia de aceitar para seguir
Ao final, A Monster Calls deixa uma mensagem clara: negar o sofrimento não o elimina, apenas o prolonga. A verdadeira transformação acontece quando se encara a verdade com honestidade, mesmo que ela doa. O monstro, longe de ser ameaça, simboliza esse processo de amadurecimento, guiando Conor a enxergar que perder não significa esquecer.
O filme se torna, assim, um lembrete de que coragem não se mede apenas por grandes feitos, mas também pela capacidade de aceitar a vulnerabilidade humana. Na fusão entre fantasia e realidade, a obra oferece uma lição atemporal: crescer é aprender a conviver com a dor sem deixar que ela destrua a esperança.
