Em Rustin (2023), dirigido por George C. Wolfe e estrelado por Colman Domingo, a Netflix ilumina a trajetória de Bayard Rustin — o estrategista visionário que organizou a Marcha sobre Washington de 1963 e ajudou a moldar o discurso mais icônico de Martin Luther King Jr. Muito além dos bastidores da luta pelos direitos civis, o filme é um retrato de resistência contra o racismo, a homofobia e o apagamento histórico.
O homem que ensinou a América a marchar
Bayard Rustin não foi apenas um organizador: ele foi o cérebro logístico e político por trás de um dos maiores atos de mobilização social da história dos EUA. Negro, gay e militante num período marcado por preconceito e perseguição, Rustin precisou lidar com forças que tentaram silenciar sua voz e minimizar sua contribuição — inclusive dentro do próprio movimento.
O filme mostra, com ritmo ágil, desde a construção estratégica da marcha até os momentos mais íntimos e vulneráveis do ativista. A reconstituição dos anos 1960, com figurinos e ambientações fiéis, mergulha o espectador no clima político e social de uma época em ebulição.
Liderança na sombra
Um dos pontos mais potentes de Rustin é como ele expõe a invisibilidade histórica que recai sobre figuras-chave da luta por direitos civis. Rustin foi afastado de cargos de liderança em vários momentos devido à sua orientação sexual — algo usado por opositores para enfraquecer o movimento.
Ainda assim, sua capacidade de organização, seu carisma e sua crença inabalável no poder coletivo fizeram com que a Marcha sobre Washington reunisse mais de 250 mil pessoas, se tornando um marco não apenas na luta por igualdade racial, mas também na história da democracia americana.
Uma atuação à altura da história
Colman Domingo entrega uma performance vibrante e multifacetada, que equilibra firmeza política e fragilidade pessoal. Sua atuação rendeu indicações ao Oscar e ao Globo de Ouro, ajudando a resgatar a figura de Rustin para o imaginário popular contemporâneo.
O roteiro de Julian Breece e Dustin Lance Black não se limita a celebrar o feito histórico: ele também convida a refletir sobre como o preconceito pode silenciar líderes e como a memória oficial muitas vezes exclui vozes essenciais.
Por que Rustin importa hoje
O lançamento do filme reacendeu discussões sobre representatividade LGBTQIA+ na política e a importância de reconhecer a diversidade dentro das lutas sociais. É também um lembrete poderoso de que conquistas históricas não surgem de líderes isolados, mas de movimentos coletivos, sustentados por pessoas cujas histórias ainda precisam ser contadas.
Ao final, fica claro: Rustin não apenas ajudou a organizar uma marcha; ele ensinou uma nação a caminhar, mesmo quando o caminho parecia impossível.
