“Quando o silêncio toma conta, o que resta para ser ouvido dentro de nós?” — Sound of Metal (2019/2020), dirigido por Darius Marder, mergulha no mundo de Ruben, baterista de heavy metal, cuja vida muda radicalmente ao perder a audição, explorando a reinvenção pessoal, a aceitação e o pertencimento em meio à transformação.
O impacto da surdez
Ruben Stone é um músico dedicado cuja existência gira em torno da bateria e da música pesada. Quando começa a perder a audição, ele enfrenta não apenas a interrupção de sua carreira, mas também a necessidade de repensar sua identidade. O filme nos leva a sentir a experiência auditiva de Ruben, alternando entre sua percepção e o mundo sonoro comum, criando uma imersão sensorial rara no cinema contemporâneo.
A surdez, mais do que uma deficiência física, se apresenta como catalisador para reflexão sobre limites, dependência emocional e vulnerabilidade. Ao lidar com a perda, Ruben questiona o que realmente define quem ele é e como pode reconstruir sua vida fora da música, revelando o silêncio como espaço de introspecção e liberdade.
Comunidade e pertencimento
O encontro de Ruben com a comunidade surda é um dos pontos centrais da narrativa. Nesse ambiente, ele descobre que a surdez não é apenas uma limitação, mas também uma identidade cultural rica e uma forma de conexão com outros indivíduos que compartilham experiências semelhantes. Esse contato oferece a Ruben novos horizontes, ajudando-o a aceitar sua condição e a redefinir sua relação com o mundo e consigo mesmo.
Essa dimensão comunitária também reflete sobre inclusão, empatia e respeito às diferenças. O filme apresenta a aceitação como processo ativo, enfatizando que pertencimento e apoio mútuo são essenciais para superar traumas e construir novas formas de existir social e emocionalmente.
Silêncio como linguagem
A narrativa de Sound of Metal utiliza o silêncio de maneira poética e dramática. A alternância entre som intenso e quase total ausência de áudio cria um efeito imersivo, fazendo o público experimentar a perda de maneira quase física. A fotografia intimista e a direção de som inovadora reforçam a sensação de isolamento, introspecção e descoberta interior, tornando cada cena uma exploração sensorial da transformação de Ruben.
O filme mostra que ouvir não é apenas captar sons, mas compreender a vida e a si mesmo de formas mais profundas. A jornada de Ruben ilustra como a aceitação do silêncio pode se tornar um caminho para reconciliação com o passado, autoconhecimento e ressignificação de prioridades, ressaltando que transformação e crescimento pessoal muitas vezes surgem de perdas inesperadas.
Reconhecimento e legado
Estreando no Festival de Toronto (2019) e lançado pela Amazon em 2020, Sound of Metal conquistou reconhecimento crítico e público. Venceu dois Oscars (Melhor Edição e Melhor Som), enquanto Riz Ahmed recebeu indicação ao Oscar de Melhor Ator, tornando-se o primeiro muçulmano indicado na categoria. A obra também é referência por sua representação sensível e inovadora da surdez no cinema.
Mais do que um drama sobre deficiência, o filme nos convida a repensar percepção, escuta e aceitação. Ao colocar o silêncio no centro da narrativa, Sound of Metal ensina que a vida pode ser ouvida de maneiras inesperadas — não apenas com os ouvidos, mas com atenção, empatia e abertura ao que o mundo e as pessoas têm a oferecer.
