Em Monsters and Men (2018), uma tragédia urbana se espalha em ondas de medo, indignação e coragem. Após a morte de um homem negro desarmado, três personagens enfrentam dilemas que cruzam dever, consciência e risco pessoal. O resultado é um retrato coletivo da brutalidade policial que evita o sensacionalismo para focar no humano: jovens, famílias e até policiais que precisam decidir de que lado da história estarão.
Um crime, três caminhos
O filme acompanha três protagonistas cujas trajetórias se entrelaçam em torno de um mesmo ato de violência policial. Manny, que grava a execução em vídeo, precisa escolher entre divulgar a prova ou proteger sua família do risco de retaliação. Zyrick, um atleta adolescente, vê seu futuro promissor no esporte se chocar com a urgência do ativismo. Já Dennis, um policial negro, enfrenta o peso de servir a uma instituição que ataca aqueles que ele deveria proteger.
Ao dividir a narrativa em três atos, Monsters and Men expõe a pluralidade de experiências dentro da mesma comunidade, mostrando que a verdade não é apenas um fato, mas um conjunto de escolhas éticas.
Coragem e silêncio
Cada personagem lida com o medo de forma distinta: Manny debate a coragem de tornar público o vídeo, Zyrick descobre que o silêncio também é uma forma de cumplicidade, e Dennis enfrenta o conflito entre a lealdade ao distintivo e a justiça.
Esses dilemas refletem uma questão central: quando a violência é registrada, o que basta para que a verdade se imponha? O filme sugere que filmar não é suficiente — é preciso romper a barreira do medo para transformar indignação em ação.
Cinema real e íntimo
A direção de Reinaldo Marcus Green aposta em uma estética crua, próxima do cinema independente, com fotografia naturalista e uma câmera que acompanha os personagens pelas ruas, esquinas e olhares da vizinhança.
O ritmo é contido, quase silencioso, permitindo que os conflitos internos falem mais alto que as explosões dramáticas. É um suspense moral, em que o perigo não vem de perseguições, mas da tensão de viver em uma sociedade que normaliza a violência.
Impacto social e cultural
Premiado em Sundance com o Special Jury Award, o filme recebeu elogios pela forma sensível de abordar o racismo sistêmico sem recorrer a clichês. A atuação de Anthony Ramos, Kelvin Harrison Jr. e John David Washington reforça a força da mensagem, transformando cada personagem em espelho de dilemas coletivos.
Mais do que denunciar a brutalidade policial, Monsters and Men evidencia como o trauma atinge quem filma, quem observa e quem veste a farda — revelando que a luta por justiça é feita de pequenas decisões cotidianas.
Um retrato urgente da desigualdade
Ao destacar jovens negros em diferentes contextos — do sonho esportivo à farda policial — o filme denuncia as barreiras invisíveis impostas pela desigualdade racial e institucional. Sua força está em mostrar que a violência não é apenas um ato isolado, mas um sistema que exige resistência.
Nesse sentido, Monsters and Men dialoga com temas de justiça, saúde mental e educação, reforçando a necessidade de instituições mais transparentes e comunidades fortalecidas.
