Ser chefe já não é tarefa fácil. Ser chefe do próprio pai, então, exige mais do que técnica: pede coragem, empatia e equilíbrio. É essa a tensão que move Good Sam (2022), série criada por Katie Wech, que mistura drama médico com embates familiares e questões estruturais sobre gênero, poder e liderança no ambiente hospitalar.
Liderar, mesmo quando não querem que você lidere
A cirurgiã cardíaca Dra. Samantha “Sam” Griffith (Sophia Bush) se vê, de forma inesperada, no comando do setor de cirurgia de um grande hospital após seu pai, o renomado Dr. Rob “Griff” Griffith (Jason Isaacs), entrar em coma. Quando ele desperta, surge um novo desafio: além de salvar vidas, Sam precisa administrar a difícil convivência com um pai que não aceita estar subordinado à própria filha.
O enredo expõe, de forma sensível e incisiva, os desafios enfrentados por mulheres em posições de liderança, especialmente em setores historicamente masculinos como a medicina de alta complexidade.
Entre tradição e inovação, o bisturi também corta egos
Mais do que um drama médico, Good Sam reflete o eterno embate entre gerações. De um lado, Griff representa a medicina tradicional, baseada em hierarquias rígidas e métodos convencionais. Do outro, Sam traz uma visão mais colaborativa, integrativa e alinhada às práticas contemporâneas de gestão hospitalar.
Essa tensão se desdobra não apenas nas decisões clínicas, mas também nas éticas — quando o conflito familiar transborda para a sala de cirurgia e para a administração hospitalar, colocando em xeque o que significa, de fato, ser um bom médico e um bom líder.
Relações que nem a medicina consegue curar facilmente
Ao colocar pai e filha em posições hierárquicas opostas, Good Sam escancara os desafios emocionais e psicológicos de trabalhar com familiares, especialmente quando as relações de poder se invertem. O que começa como um drama profissional se aprofunda em questões de identidade, legado, orgulho e reconciliação.
Os corredores do hospital Lakeshore Sentinel se tornam não apenas palco de procedimentos de alta precisão, mas também de confrontos emocionais que nenhum bisturi pode resolver.
Mais do que salvar vidas: questionar sistemas
Ao longo de seus 13 episódios, a série oferece mais do que tramas médicas. Ela propõe reflexões sobre ética, empatia, modelos de gestão e os desafios de romper estruturas engessadas. Embora tenha sido cancelada após uma temporada — reflexo mais da dinâmica volátil do mercado televisivo do que de sua relevância temática — Good Sam deixa um legado simbólico: discutir o lugar das mulheres na liderança, os desafios do diálogo intergeracional e a necessidade de instituições mais justas e colaborativas.
