Em Apenas um Suspiro (Dans la Brume, 2018), dirigido por Daniel Roby, Romain Duris e Olga Kurylenko interpretam pais que enfrentam o inimaginável: proteger a filha, confinada por uma rara doença, em meio a uma catástrofe ambiental que transforma o ar de Paris em veneno. Entre o suspense da ficção científica e o drama humano, o filme expõe os limites da sobrevivência e as escolhas dolorosas que o amor impõe.
Uma Paris sufocada pela névoa
A trama se inicia de forma abrupta: uma misteriosa névoa tóxica invade as ruas de Paris, engolindo a cidade com uma rapidez assustadora. O caos se espalha, as comunicações falham e as estruturas da vida urbana colapsam. Nesse cenário, Mathieu e Anna precisam agir rápido para manter Sarah viva — ela depende de uma cápsula hermética para respirar, e a energia que a mantém funcionando não pode falhar.
O filme utiliza a estética apocalíptica para intensificar o peso das decisões, contrapondo o silêncio das ruas vazias ao som abafado do ar filtrado. É um retrato visual da fragilidade das cidades diante de crises ambientais extremas, onde a infraestrutura, o planejamento e até a solidariedade social se mostram frágeis frente à força da natureza.
Entre o instinto e o sacrifício
Mais do que uma luta contra o tempo, a narrativa é um estudo sobre a força dos laços familiares. Mathieu e Anna se alternam em incursões perigosas pela cidade, buscando suprimentos e soluções para manter a filha viva. Cada saída representa uma aposta arriscada, com a ameaça invisível da névoa e a incerteza de retorno.
A relação dos personagens é marcada por tensões, memórias e divergências, mas o filme mostra que, diante da ameaça, a união se impõe como único caminho. O amor se manifesta em pequenas decisões — desde dividir o último gole de água até enfrentar o desconhecido. É nessa fronteira entre instinto de sobrevivência e sacrifício pessoal que o longa encontra sua força emocional.
Catástrofes reais por trás da ficção
Embora a névoa do filme seja fruto da ficção, o enredo ressoa com questões ambientais reais. Poluição atmosférica, mudanças climáticas e degradação dos ecossistemas já afetam milhões de pessoas no mundo, especialmente em grandes centros urbanos. A metáfora é clara: ignorar esses sinais pode nos levar a um futuro onde respirar seja um privilégio.
A narrativa também convida à reflexão sobre a vulnerabilidade das cidades modernas. Sistemas de transporte, energia e comunicação, tão integrados ao cotidiano, podem se tornar inoperantes em questão de horas, expondo a população ao perigo. Nesse sentido, Apenas um Suspiro funciona como um alerta sobre a necessidade de cidades mais resilientes e políticas ambientais urgentes.
Esperança em meio ao colapso
Mesmo cercado pela sensação de desespero, o filme encontra espaço para falar de resiliência. Sarah, apesar de sua condição frágil, representa a possibilidade de um futuro — um motivo concreto para que os pais continuem lutando. É através dessa figura que a narrativa sustenta uma centelha de otimismo, lembrando que, mesmo nas situações mais extremas, a vida busca caminhos para continuar.
Ao final, a história não oferece respostas fáceis, mas deixa uma certeza: diante do colapso, nossas escolhas definem quem somos. E, assim como no filme, talvez o maior ato de coragem seja seguir respirando — e lutando — quando tudo ao redor parece perdido.
