Dirigido por Bill Condon e estrelado por Ian McKellen e Helen Mirren, A Grande Mentira (2019) é um suspense psicológico elegante que vai além do simples jogo de gato e rato. O filme expõe as consequências da mentira e da manipulação quando confrontadas pela memória, pela vingança e pela justiça.
Mentira e manipulação
Roy Courtnay (McKellen), um experiente golpista, vê em Betty McLeish (Mirren) sua chance de aplicar um grande golpe. A princípio, tudo se desenha como mais um esquema de sedução e fraude. Contudo, à medida que a trama se desenrola, percebemos que as aparências enganam: as mentiras de Roy se multiplicam, mas também o cercam.
O filme mostra como a manipulação pode se sustentar por algum tempo, mas nunca de forma definitiva. No jogo psicológico entre Roy e Betty, fica claro que a confiança, quando construída sobre segredos, se transforma em uma armadilha fatal.
Vingança e justiça
O que parecia um golpe previsível se transforma em uma narrativa de acerto de contas. Através de flashbacks, a trama revela que o passado de Roy esconde mais do que golpes financeiros — há crimes, traumas e marcas que não foram esquecidas.
Betty, antes vista como vítima frágil, se revela uma peça ativa no tabuleiro. Sua busca por justiça ressignifica a narrativa, trazendo um senso de reparação moral que dá profundidade ao suspense. Assim, a vingança aparece não como mero capricho, mas como resposta a um histórico de violência e abuso.
Identidade e revelações
Um dos pontos fortes do filme é a forma como trata identidade e memória. A cada revelação, os personagens são obrigados a confrontar quem realmente são — ou quem fingem ser. As máscaras de Roy vão caindo, e Betty surge como uma personagem muito mais complexa do que aparentava.
Esse jogo de identidades não apenas sustenta a tensão narrativa, mas também provoca o espectador a refletir sobre até que ponto conhecemos verdadeiramente o outro — e sobre como o passado molda o presente.
O duelo de McKellen e Mirren
Se a trama em alguns momentos soa previsível, é a força do elenco que garante o impacto. McKellen entrega um golpista carismático e perigoso, enquanto Mirren conduz Betty com inteligência e sutileza, revelando camadas que só se desdobram no clímax. Juntos, criam um embate de atuações digno de teatro clássico.
Visualmente, o filme opta por uma estética sóbria: cenários elegantes, fotografia discreta e ritmo cadenciado, que privilegia os diálogos intensos. É um suspense que aposta menos em ação e mais no poder da palavra e da revelação.
