Em Eu Acredito (I Believe, 2017), um garoto de apenas nove anos se torna mensageiro de algo maior quando passa a ouvir a voz de Deus. Entre milagres discretos e a resistência de adultos céticos, o filme mostra como a simplicidade de uma fé infantil pode transformar não só uma família, mas toda uma cidade.
Um pequeno profeta em meio à descrença
A trama acompanha Brian Webber, interpretado por Rowan Smyth, um menino que começa a relatar experiências espirituais que ninguém consegue explicar. O que poderia ser tratado como imaginação infantil logo desperta curiosidade, temor e, principalmente, debate entre os moradores. Sua confiança em algo invisível desafia adultos acostumados a raciocinar apenas pela lógica, abrindo espaço para conversas sobre propósito, cuidado coletivo e força interior.
Mais do que milagres espetaculares, o que o roteiro destaca é a coragem de manter a integridade em meio ao julgamento alheio. A pureza do olhar infantil, livre de preconceitos, torna-se uma metáfora poderosa para lembrar que princípios como empatia, solidariedade e justiça não dependem de idade ou status.
A fé como ponto de encontro
Embora o filme tenha nascido em um circuito cristão independente, sua mensagem dialoga com questões universais. A crença do menino não se limita a ritos ou templos; ela funciona como elo entre vizinhos, famílias e autoridades. Em uma comunidade dividida, a fé se apresenta como linguagem comum para reconciliar diferenças, nutrir relações e estimular atitudes mais humanas.
Esse despertar coletivo sugere que mudanças sociais podem começar em gestos simples, muitas vezes ignorados pelo olhar adulto. O impacto não está apenas no milagre, mas na maneira como a esperança reacende responsabilidades mútuas e incentiva cuidado com quem mais precisa.
Educação do coração
Outro ponto sensível da narrativa é a aprendizagem que se dá fora da escola formal. Brian ensina — e aprende — com cada encontro, mostrando que valores de respeito, escuta e compaixão são tão essenciais quanto qualquer disciplina acadêmica. O filme sugere que educar vai além de transmitir informação; trata-se de cultivar caráter, consciência e capacidade de perdoar.
Esse tipo de crescimento interior lembra que comunidades mais equilibradas nascem quando crianças e adultos compartilham experiências que formam, ao mesmo tempo, mente e espírito. A educação, nesse contexto, é apresentada como processo contínuo, em que todos têm algo a ensinar e aprender.
Esperança em tempos difíceis
Produzido com recursos modestos e estética simples, Eu Acredito não busca o espetáculo técnico. Seu valor está no convite para que o público reflita sobre a importância da esperança em meio a crises — sejam elas emocionais, familiares ou sociais. Ao colocar uma criança como catalisadora de mudanças, o filme reforça que a transformação coletiva começa na capacidade de acreditar no impossível.
Mesmo com críticas à sua previsibilidade, a obra conquista quem está aberto a mensagens edificantes. No fim, fica a sensação de que, independentemente de convicções religiosas, a verdadeira força está em reconhecer que a fé — seja em Deus, na humanidade ou no futuro — pode ser o primeiro passo para um mundo mais justo e solidário.
