Entre brindes de cerveja e confissões sob a lua, dois adolescentes aprendem que viver o presente é a única forma de não perder o futuro.
A beleza do agora
Em um tempo em que a adolescência é frequentemente retratada de forma exagerada ou idealizada, O Maravilhoso Agorase destaca por sua honestidade. Lançado em 2013 sob direção de James Ponsoldt e roteiro de Scott Neustadter e Michael H. Weber, o filme adapta o romance de Tim Tharp com uma linguagem visual intimista e uma sensibilidade que fala direto ao coração. Ao invés de superdramas ou reviravoltas espetaculares, a história aposta nos pequenos gestos e silêncios que moldam o processo de amadurecimento.
Sutter Keely, interpretado por Miles Teller, é um jovem carismático que vive cada momento como se fosse o último. Ele evita pensar no futuro e foge das responsabilidades através de festas e álcool. Tudo muda quando ele conhece Aimee Finicky, vivida por Shailene Woodley, uma garota introspectiva e generosa que carrega seus próprios desafios. O encontro entre os dois não é apenas um romance juvenil, mas um confronto entre duas maneiras de existir: fugir ou encarar.
Amor e vulnerabilidade
Ao longo do filme, a relação entre Sutter e Aimee se desenvolve com um realismo raro no cinema adolescente. Longe de idealizações, o roteiro permite que os personagens se revelem com suas inseguranças, traumas e esperanças. Aimee não tenta consertar Sutter, e ele, por sua vez, precisa decidir se quer ser alguém melhor por si mesmo. Nesse equilíbrio, o amor surge como um espaço de acolhimento mútuo, onde a reciprocidade não vem da perfeição, mas da coragem de se mostrar de verdade.
A química entre Teller e Woodley é um dos pontos altos do longa. Os dois constroem cenas de rara autenticidade, especialmente nos momentos mais simples, como em uma conversa no quarto, um beijo tímido, um silêncio que diz tudo. A câmera, sempre próxima, acompanha os rostos com delicadeza, valorizando expressões e hesitações que tornam os sentimentos mais tangíveis.
Escolhas que moldam o futuro
Apesar do foco no presente, o filme também convida a refletir sobre o futuro. A partir do momento em que Sutter precisa lidar com a ausência paterna, o alcoolismo e o medo de não ser suficiente, ele é obrigado a tomar decisões que ultrapassam o agora. Aimee, por sua vez, também encara dilemas familiares e a pressão de abrir mão de seus sonhos pelos outros. O futuro, nesse contexto, deixa de ser um conceito abstrato e passa a ser consequência direta de pequenas escolhas feitas com ou sem consciência. Nesse ponto, O Maravilhoso Agora se conecta com temas mais amplos, como saúde mental, consumo de álcool na juventude e o impacto das relações familiares na construção da identidade. Ao evitar discursos moralistas, o filme apresenta essas questões com empatia, permitindo que o espectador reflita sem ser guiado por julgamentos.
Um retrato sincero do crescimento
Filmado em locações na Geórgia, Estados Unidos, o longa utiliza a luz natural e uma fotografia quase documental para criar um clima de realismo emocional. Os planos abertos das festas ao entardecer contrastam com os closes íntimos dos protagonistas, criando um equilíbrio entre o mundo externo e o universo interno dos personagens. A direção sutil evita excessos e permite que a história fale por si. Com um orçamento modesto de 2,5 milhões de dólares e arrecadação mundial de cerca de 6 milhões, o filme conquistou a crítica, com 92 por cento de aprovação no Rotten Tomatoes e aclamação no Metacritic. A estreia no Festival de Sundance em 2013 marcou sua entrada no circuito independente com força, consolidando-se como uma das obras mais marcantes do gênero coming of age na última década.
O agora como ponto de partida
Mais do que uma história de amor adolescente, O Maravilhoso Agora é um convite à presença. Ele lembra que enfrentar a própria história, aceitar as imperfeições e enxergar o outro com generosidade são atos de coragem. Crescer não é esquecer o passado nem correr para o futuro. É, antes de tudo, aprender a habitar o presente com responsabilidade e verdade.
Ao final, quando Sutter decide ir atrás de Aimee, não há promessas grandiosas nem garantias. Há apenas um olhar mais honesto no espelho e o desejo genuíno de seguir em frente. Talvez, como o próprio título sugere, o momento mais valioso seja mesmo aquele que se está vivendo, e isso já é extraordinário.
