A Batalha das Correntes (The Current War, 2017), filme dirigido por Alfonso Gomez-Rejon e estrelado por Benedict Cumberbatch, Michael Shannon e Nicholas Hoult, resgata um dos episódios mais emblemáticos — e controversos — da história da eletricidade.
Entre fios emaranhados e ambições elevadas, o longa revela como a inovação técnica esteve — e segue — intrinsecamente ligada a jogos de poder, manipulação e disputas narrativas.
Edison x Westinghouse: Mais que Corrente Elétrica
No centro do enredo estão Thomas Edison, defensor da corrente contínua (DC), e George Westinghouse, promotor da corrente alternada (AC). De um lado, o inventor celebrado, obcecado pelo controle da narrativa e da tecnologia. Do outro, um engenheiro pragmático que via na eficiência e na segurança da AC uma solução viável e escalável para iluminar cidades inteiras.
Mas o filme vai além do embate técnico. Ele escancara o quanto interesses econômicos, relações com investidores — como o banqueiro J.P. Morgan — e estratégias midiáticas foram decisivos para definir o “vencedor” dessa guerra. A eletricidade, afinal, tornava-se um negócio de bilhões antes mesmo de chegar a todas as casas.
Nikola Tesla: O Gênio que o Século Escondeu
No fio mais sensível dessa rede elétrica está Nikola Tesla, interpretado por Nicholas Hoult. Visionário, excêntrico e constantemente subestimado, Tesla representa o cientista movido por ideias, não por lucros. Suas contribuições à corrente alternada foram decisivas, mas a história — e o mercado — relegaram seu nome à sombra dos titãs corporativos.
Tesla é, no filme, o retrato do talento que floresce à margem. Sem o mesmo acesso a financiamento, estrutura ou reconhecimento, ele simboliza milhares de mentes criativas que não encontram espaço em um sistema que recompensa mais o capital do que a contribuição.
A Manipulação como Ferramenta de Inovação
Ao acompanhar a jornada desses homens, o longa não poupa críticas ao uso da propaganda como arma. Edison, em especial, recorreu à espetacularização da morte — executando animais com corrente alternada — para convencer o público de que a tecnologia do rival era perigosa. A verdade científica, nesse cenário, cedia lugar ao espetáculo midiático.
Não por acaso, a primeira cadeira elétrica, projetada com corrente alternada, nasceu não como inovação, mas como manobra de marketing. Um lembrete desconfortável de como o medo pode ser usado para consolidar poder e moldar decisões técnicas e políticas.
A Origem da Energia Moderna — e de Suas Contradições
The Current War é mais do que uma biografia dramatizada. É uma reflexão sobre os bastidores da tecnologia que sustenta a vida moderna. Ao narrar a gênese da eletrificação, o filme provoca questões ainda pertinentes: quem decide o que é progresso? O que estamos dispostos a sacrificar em nome da inovação? E quem garante que os méritos sejam distribuídos de forma justa?
Essas perguntas ecoam nas disputas atuais por energias renováveis, na luta por acesso à eletricidade em comunidades periféricas e nas tensões entre pesquisa independente e interesses corporativos. O cenário mudou, mas o campo de batalha permanece.
Uma Aula sobre Poder, Ambição e Silêncios Históricos
A Batalha das Correntes não tenta reescrever a história. Mas convida o espectador a questionar a versão oficial. A eletricidade que hoje acende nossas lâmpadas e movimenta economias foi forjada em um terreno de alianças frágeis, promessas perigosas e egos inflamados.