Minissérie britânica transforma um crime comum em retrato contundente de imigração, poder e corrupção institucional.
Um entregador de pizza é morto a tiros em um bairro londrino. À primeira vista, parece um crime aleatório. Mas à medida que a detetive Kip Glaspie avança na investigação, o que se desenha é um retrato complexo e incômodo de uma Londres contemporânea atravessada por desigualdades, redes ilegais e jogos de poder invisíveis. Essa é a premissa de Collateral, minissérie britânica lançada em 2018 pela BBC Two e disponível na Netflix.
Criada por David Hare e dirigida por S.J. Clarkson, a série em quatro episódios vai além do suspense policial tradicional. Com uma narrativa enxuta, intensa e carregada de tensão, Collateral transforma um assassinato isolado em ponto de partida para uma crítica social sofisticada sobre imigração, serviços de inteligência, política e trauma.
Imigração, espionagem e os bastidores do Estado
O assassinato de Abdullah Asif, um refugiado sírio e entregador de pizza, é o fio que costura uma série de tramas paralelas envolvendo militares, políticos, contrabandistas e agentes secretos. O MI5, serviço de inteligência britânico, surge como peça-chave em uma rede de silêncios e interferências que dificultam a busca pela verdade.
A protagonista, vivida por Carey Mulligan, é uma detetive obstinada que precisa navegar entre obstáculos institucionais, pressões políticas e seus próprios dilemas éticos. O roteiro não romantiza suas escolhas, tampouco oferece soluções fáceis: em Collateral, a justiça é uma construção frágil, disputada por interesses diversos que nem sempre são transparentes.
Retrato da Londres real
Ambientada em uma Londres contemporânea e multicultural, a série faz questão de expor as fraturas sociais da metrópole. A presença de refugiados, o tráfico humano e o descaso institucional revelam uma cidade onde a promessa de acolhimento esbarra em práticas de exclusão e exploração. Nesse sentido, Collateral se conecta diretamente a discussões como a redução das desigualdades (ODS 10) e a busca por instituições mais justas e eficazes (ODS 16).
A força do formato curto e do realismo
Com apenas quatro episódios de cerca de 60 minutos cada, Collateral entrega uma trama densa, sem perder ritmo. A linguagem visual é sóbria, realista, com atuações marcantes e diálogos que reforçam o peso dos conflitos morais enfrentados pelos personagens.
A crítica especializada respondeu positivamente à proposta: a minissérie alcançou 79% de aprovação no Rotten Tomatoes, com destaque para a atuação de Carey Mulligan e a abordagem inteligente dos temas sociais e políticos. Uma investigação sobre o mundo, não apenas sobre um crime. Mais do que resolver um assassinato, Collateral propõe uma reflexão sobre como estruturas de poder moldam (e muitas vezes comprometem) as vidas de pessoas comuns.
